ATA DA QUADRAGÉSIMA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO
LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 23.08.1988.
Aos vinte e três dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quadragésima Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada a homenagear a passagem dos dez anos da ADUFRGS, Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Às dezenove horas e vinte e três minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Lideres de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Artur Zanella, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, no exercício da Presidência; Prof. Sérgio Nicolaiewski, Presidente da ADUFRGS; Prof. Joaquim José Felizardo, Secretário Municipal de Cultura, representando, neste ato, o Sr. Prefeito Municipal; Prof. Sebastião Teixeira, representando, neste ato, o Delegado Regional do MEC; Ver. Antonio Hohlfeldt, proponente da Sessão e, na ocasião. Secretário “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Antonio Hohlfeldt, em nome das Bancadas do PT, PDS, PC do B, PFL e PSDB, congratulou-se com a ADUFRGS pela passagem de seus dez anos, fazendo um relato do surgimento dessa Associação e das lutas permanentes por ela mantidas, como ponto de resistência contra a ditadura militar e na busca de melhores condições de trabalho. Destacou a quebra de autonomia universitária atualmente observada na UFRGS, com a indicação, pelo Governo Federal, do Prof. Gehrart Jacob para a reitoria dessa Universidade. E o Ver. Flávio Coulon, em nome da Bancada do PMDB, dizendo já ter sido Presidente da ADUFRGS, ratificou as palavras preferidas pelo Ver. António Hohlfeldt acerca dessa associação, salientando a prática do diálogo sempre observada dentro da ADUFRGS. Atentou para a importância da participação da Associação dos Docentes da UFRGS nos movimentos democráticos do País. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Prof. Sérgio Nicolaiewski que, em nome da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em continuidade, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às vinte horas e seis minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Artur Zanella e secretariados pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Antonio Hohlfeldt. Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretária.
O SR. PRESIDENTE: Dou
por abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, que se destina a homenagear
a ADUFRGS pela passagem do seu 10º aniversário. Como oradores, nesta Sessão,
teremos o Ver. Antonio Hohlfeldt e o Ver. Flávio Coulon. O Ver. Antonio
Hohlfeldt, autor da proposição, falara em nome das Bancadas do PT, PDS, PC do
B, PFL e PSDB. Então com a palavra S. Exa.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: (Menciona os componentes da Mesa.) Falando em nome de tantas Bancadas que
compõe esta Casa e também em meu nome pessoal, especialmente dos meus
companheiros do Partido dos Trabalhadores, não quero, ao mesmo tempo, deixar de
registrar aqui que a representação que faço não significa, necessariamente, que
as Lideranças dos demais Partidos assinem embaixo daquilo que se vai dizer aqui
hoje, do ponto de vista da posição que tomamos. De qualquer maneira significa,
sobretudo que estes companheiros Vereadores, mesmo estando ausentes por motivos
variados, e cito a Ver.ª Jussara Cony que deverá se ausentar daqui a alguns
minutos, já tinha um compromisso marcado anteriormente, o Ver. Caio Lustosa,
que está viajando, evidentemente quiseram dizer do seu acompanhamento a este
ato.
Quando encaminhamos, há mais
de dois meses, requerimento à Mesa Diretora da Casa, solicitando a realização
dessa Sessão Solene, comemorativa aos dez anos de existência e de luta da
Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
pretendíamos que a Sessão fosse festiva. Inclusive, no primeiro contato que
fizemos com a ADUFRGS, e depois conversando com o Ver. Flávio Coulon, que foi,
também. Presidente, a Ver.ª Jussara Cony que é uma Professora dessa
Universidade, definíamos, exatamente, que ficaria comigo essa iniciativa,
embora houvesse uma manifestação genérica da ADUFRGS em relação a cada uma das
lideranças. Afinal, nós queríamos comemorar, apenas e tão-somente uma década da
Associação, década, em todo o caso, difícil, mas, sobretudo, uma década de
construção e de afirmação da entidade de classe da nossa Universidade Federal.
Os acontecimentos envolvendo a
sucessão na Reitoria da Universidade, contudo, fazem com que, ao menos para mim
e ao partido que represento, o Partido dos Trabalhadores, esta oportunidade se
transforme em um novo momento de
luta e de afirmação da vontade democrática daqueles que têm, na universidade, a
função de ensinar, mas, também, e, sobretudo, de dar um bom exemplo, de unir
suas palavras a uma ação coerente, e de denunciar e protestar contra aqueles
que assim não ajam.
O surgimento da associação de
docentes da Universidade Federal do RGS teve como base um pequeno grupo de
professores que, ao refletir sobre o que ocorria com a universidade brasileira,
se propôs a uma discussão sobre os caminhos a serem percorridos por eles para
que a democratização dos centros de educação superior se tornasse uma
realidade. Comovemos, apesar desta década de luta permanente, a recente
designação, a partir de lista sêxtupla, e não do nome que a encabeçava, para
ocupar o mais alto cargo diretivo da instituição, evidencia que a luta ainda
não terminou: a farsa da Nova República estende-se também à universidade e, infelizmente, a alguns de seus
integrantes.
A idéia inicial para a criação
da associação era a necessidade de se organizar a resistência ao processo de
aniquilamento da Universidade Pública, patrocinado pelo regime militar. E se
houve resistência de alguns mestres mais tradicionais, que acreditavam ser o
professor apenas para ensinar e o aluno para aprender quando a recém criada
ADFURGS enfrentava sua primeira batalha, durante a greve nacional de docentes
de 198l. Naquele movimento, além de se denunciarem as péssimas condições de
trabalho, quanto a equipamentos, disponibilidade de material e salários para os
professores, o movimento reivindicava o fim das admissões de professores sem
concurso público, prática então recorrente em todas as instituições federais.
Alcançando ampla repercussão
junto à comunidade acadêmica e não acadêmica, aquele movimento conseguia
inclusive fazer retroceder aquela tendência: ampliaram-se os salários dos
professores, garantiu-se a efetivação dos contratados e o trancamento dos
demais contratos, de tal forma a permitir uma organização clara e o mais
transparente possível do quadro funcional em cada instituição.
Hoje em dia, a ADUFRGS conta
com 1600 associados dentre os cerca de 2500 professores, o que indica um nível
de afiliação bastante razoável, mas ainda não ideal. Evidentemente, muitos
problemas perduram, e são graves problemas, um dos quais estamos a atravessar
neste momento. Embora se tenha alcançado alguns níveis na antiga reivindicação
da autonomia da universidade, a prática da lista sêxtupla, uma quíntupla, ou
quádrupla, ou tripla, ou dupla que seja, para a indicação do reitor da
universidade, quebra, sempre, a tradição básica de qualquer democracia: quem
tiver mais votos, se torna o eleito. Esta questão, que não é apenas de
democracia interna, mas de lição política a todos os alunos, professores,
funcionários e comunidade em geral a que uma universidade está ligada,
influenciando e sendo por ela influenciada, deve ser defendida como questão
fundamental para a universidade. Não se pode imaginar a liberdade da pesquisa,
a liberdade da opinião, a liberdade da cátedra, que é fundamental a qualquer
instituição educacional, seja ela ou não de Terceiro grau, sem a liberdade de
se poder escolher, livremente, quem a venha a dirigir.
Este é o desafio que hoje se
apresenta a todos nós e que, ao contrário do que se possa pensar, não se
restringe a ser uma questão interna da universidade, bastando lembrar-se
episódio ainda recente do debate envolvendo a manutenção do campus
universitário e as conseqüências que isso traz a implantação ou não, ou mesmo
modificação do traçado de avenidas previstas pelo Plano Diretor, da Cidade.
Portanto, discutir este tipo de questão, aqui nesta Casa e neste ato, até
porque esta é uma questão política e esta Casa é uma casa política, é
apropriado.
É bom que lembremos, uma vez
mais, que a universidade está inserida num contexto comunitário. E não foi uma
questão interna, apenas, a decisão que a associação tomou, em 1979, de fazer
editar o livro “Universidade e Repressão: os expurgos da UFRGS”, pela L&PM
editores, na linha, aliás, que a USP, com “O Livro negro da USP” e a
Universidade Federal de Minas Gerais realizaram: era preciso resgatar a memória
das traições, das delações e do entreguismo que, em determinado momento, invadiu
a universidade, colocando a nu, em última análise, os processos absurdos e
muitas vezes ridículos desenvolvidos contra os 34 professores expurgados da
instituição, entre 1964 e 1969. Aquela contribuição da ADUFRGS era um gesto
concreto em busca do que se alcançaria algum tempo depois, a anistia dos
professores cassados e, ainda posteriormente, a sua reintegração à
universidade.
Mas em 1981 a ADUFRGS
juntava-se a todo o corpo constitutivo da ANDES - Associação Nacional dos
Docentes do Ensino Superior, para elaborar a “proposta das ADs para a reestruturação da Universidade
Brasileira”, publicado em 1984 e que hoje é um marco referencial da ação
política do movimento nacional dos docentes universitários.
Na defesa da universidade
publica gratuita, autônoma, democrática e competente, a ADUFRGS projetou-se
inclusive na busca da derrota do chamado Projeto GERES - Grupo Executivo da
Reforma do Ensino Superior, instituído pelo ex-ministro e banqueiro Jorge
Bornhausen, que pretendia a subordinação total das universidades aos interesses
da iniciativa privada, em 1986. Pela greve do ano seguinte, alcançou-se o Plano
Único de Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos, com isonomia entre
os docentes das autarquias e fundações.
Ligada aos interesses
comunitários e as suas lutas, a ADUFRGS foi avante na luta pelas Diretas Já, em
1984, defendendo a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte livre e
soberana, o'que, infelizmente, não aconteceria, frustrando a maioria da nação.
A batalha mais recente e que
nos toca mais diretamente, contudo, foi aquela travada em defesa da
democratização interna da universidade, ao lado de toda à comunidade
universitária, buscando a eleição direta paca a reitoria e o compromisso de
todos os candidatos no sentido de respeitarem a decisão comum faria, decisão
esta, infelizmente, quebrada por aquele que, hoje, recebe a indicação de um
falido e ilegítimo Presidente da República, para ocupar um cargo ao qual a
comunidade não o indicou. Por isso, se nada mais, se justifica esta luta e esta
resistência. Não vou, até porque não me cabe, abordar aqui o mérito do novo
reitor. Não o conheço mais profundamente. Mas duvido, a partir do momento em
que ocupa o cargo com tal avidez, duvido que seja um bom mestre; o mestre, com
humildade e coerência, mostra o caminho ao discípulo, aliando o discurso com a
prática. Evidentemente, não é o que ocorre. O mestre, neste bom exemplo, deve
manter e respeitar a palavra dada; não é, evidentemente, o que ocorre. Entendo
que, uma vez havida uma eleição, uma vez aceita a condição básica da mesma por
todos os candidatos, uma vez fixadas as regras do jogo, deveriam, todos, ir até
o final com o respeito que se exige de quem vai defender o'interesse
universitário: mas não é,
infelizmente, o que acontece. Por isso, senhor presidente, senhores vereador,
prezados companheiros professores, este dia, que deveria ser de festa pura, é
também de protesto e de resistência. E integro-me, neste discurso e neste ato,
a este protesto e a esta resistência,como ex-aluno da Universidade que fui,
como colega e companheiro professor universitário, embora em uma instituição
particular, que sou, mas, sobretudo, como cidadão; como poderemos enviar nossos
filhos ou freqüentarmos, nós mesmos, os bancos escolares de uma instituição
onde seu próprio comandante não é capaz de manter a palavra e,
conseqüentemente, a dignidade de um compromisso?
Não desistamos, porém, da
luta, companheiros. Viver é lutar, já disse
o poeta, e mais do que nunca no momento em que frustração da população ante a
falência das instituições é tão grande em nosso país, a luta da comunidade
universitária da UFRGS pode e deve ser um exemplo: por maiores as dificuldades,
por piores os obstáculos, por mais aparentemente intransponíveis os desafios, é
função, de uma entidade de classe como é a ADUFRGS manter a sua luta. Só assim,
ao comemorarmos não apenas sua primeira década de existência, quanto outras
muitas décadas que, esperamos, a entidade chegará a festejar, poderá ela
colocar-se com hombridade, coerência e respeito junto à comunidade para a qual,
em última análise, foi criada e deve atuar. Esperemos, pois, que este ato, no
dia de hoje, possa contribuir, humildemente, para este objetivo. Meu abraço
especial ao Reitor Alceu Ferrari e aos Professores que estão aqui presentes.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: Com
a palavra o Ver. Flávio Coulon, pela Bancada do PMDB.
O SR. FLÁVIO COULON:
(Menciona os componentes da Mesa.) Srs. Professores, minhas Senhoras e meus
Senhores.
Eu já estava com um problema,
agora, com o discurso do António, estou com dois problemas. Um dos problemas é
que eu quebro o protocolo não lendo o discurso, porque é uma praxe da Bancada
do PMDB que estes assuntos referentes à educação sejam tratados, na tribuna,
nestas Sessões, por um dos dois representantes que nós temos na Comissão de
Educação. E, hoje, ao fim da tarde, o Ver. Clóvis Brum, pessoa que tinha ficado
encarregado de saudar a ADUFRGS, informou-me que não viria e me pedia que
falasse em nome da Bancada do PMDB. E o segundo problema é que o Antonio,
praticamente, esgotou o assunto, até porque ele demonstrou que sabe mais sobre
a ADUFRGS, do que eu, que fui presidente da mesma, fez um belíssimo discurso,
com uma belíssima retrospectiva da ADUFRGS. Eu digo, com toda a consciência que
subscrevo quase tudo que o Ver. Antonio Hohlfeldt disse desta tribuna. A única
coisa que eu posso dizer é que eu tenho a consciência absoluta de que a
Universidade do Rio Grande do Sul é maior do que o Reitor. Esta tem sido a
postura com que temos atravessado a Universidade – ela é sempre muito maior do
que o eventual Reitor que esteja no exercício. A respeito da ADUFRGS, eu
centraria as minhas divagações na figura daquele que, no meu modo de entender,
representa mais do que fielmente a Associação de Docentes, que é o seu Presidente-fundador,
o nosso colega, Professor Fachel que, ao longo de toda a historia da ADUFRGS,
dentro da fundação, tem dado um exemplo, e é o exemplo dos professores que
realmente se integraram na ADUFRGS, independente da discussão, do assunto, do grupo e do que esteja sendo colocado,
lá está o prof. Fachel dando a sua colaboração para que a nossa decisão, em
termos de associação de docentes seja melhor. Me parece que a ADUFRGS tem uma
história dentro da universidade que já marca a
sua presença ao longo desses 10 anos. É a história do diálogo
democrático interno, que é uma das coisas que me parece o maior patrimônio da
ADUFRGS. Nós divergimos, algumas vezes, radicalmente, mas me agrada e me
satisfaz e me deixa realizado, como professor universitário, é saber que os
colegas tem a coragem, tem a dignidade
de em cada uma daquelas assembléias, desde as mais violentas, as menos
violentas, que os professores são capazes e tem a coragem de colocar as suas
posições. Ainda ontem tivemos o exemplo disso, onde tivemos uma assembléia
memorável, na Escola de Engenharia, onde mais uma vez, abertamente, colocamos
as nossas convergências e divergências. A luta da ADUFRGS, e o reconhecimento
como realmente uma entidade que tem expressão dentro da universidade, está expressa
nessa caminhada que temos feito ao longo desses 10 anos, e que vive, no
momento, uma das outras situações de grande afirmação. Parece-me válido que
dentro das atuais circunstâncias a nossa associação não esteja omissa no debate
desse problema, que é um problema que interessa a universidade hoje, e
interessa à universidade do amanhã. Então, ao lado dessas lutas pelo ensino
público gratuito, ao lado desta luta magnífica que foi o retorno dos
professores cassados, ao lado da luta pela dignificação da profissão de
professor universitário, mais uma vez estamos em luta, agora estamos discutindo
internamente o que é, e o que na realidade significa a verdadeira
democratização da universidade. Isto me parece que é a convergência e a
destinação da ADUFRGS. De modo que, não tenho dúvida. Ver. Antonio Hohlfeldt,
de que os futuros vereadores desta cidade estarão aqui para comemorar os 20
anos dos 50 anos ou 100 anos, enquanto existir a UFRGS, estaremos aqui
comemorando a presença marcante da Associação de Docentes da UFRGS, no panorama
não só desta Universidade, como no
panorama desta cidade, no panorama deste Estado, no panorama deste País. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE:
Concedemos a palavra ao Prof. Sérgio Nicolaiewsky.
O SR. SÉRGIO NICOLAIEWSKY: (Menciona os componentes da Mesa.) Prof. Fachel, muito digno 1º Presidente da nossa Associação de Docentes da Universidade; Prof. Alceu Ferrari, 1º da lista da eleição direta de nossa Universidade, que indicou o nosso Reitor; Prof. Scherer, ex-presidente de nossa Associação; Ver. Jussara Cony e demais colegas. É realmente uma satisfação muito grande ver narrada, por um Vereador desta Casa, a história da nossa Associação. Não é difícil narrar a história de uma Associação que tem pontos marcantes na sua trajetória. Essa é uma Associação que começou lutando, e passou lutando esses 10 anos, e parece que, por ironia, quando nós estamos comemorando 10 anos, e dizemos que são 10 anos de luta, nós começamos a luta. A Associação não poderia tomar atitude diferente da que tomou ao se rebelar contra a atitude do Presidente da República e mais tristemente contra a atitude de um colega nosso que aceitou a determinação do Presidente da República. E essa indignação da Associação e do conjunto de docentes da Universidade têm uma única razão. Foi a Associação e o Conjunto de Docentes que iniciaram uma luta ferrenha, a partir de meados do ano passado tentando forçar a situação, tentando impor que nossa Universidade, através de seus órgãos competentes oficializasse a eleição direta para Reitor. A nossa tristeza era extrema porque éramos, talvez, a única das grandes Universidades deste País que ainda não tinha elegido o seu reitor. A luta não foi pouca; houve uma participação substancial de Diretores no Conselho Universitário, a participação de colegas nossos que participam do COCEP e, finalmente, não sem grandes batalhas, não sem algumas derrotas neste processo, não sem ter perdido parte daquilo que, nós realmente reivindicávamos como uma eleição democrática, conseguimos que o Conselho Universitário e o Colégio Eleitoral, que é o Conselho Universitário, mais o COCEP, mais o Conselho de Curadores, aprovasse a eleição direta, aprovasse as regras de uma eleição direta. Fizemos esta eleição. O Processo foi extremamente liso, transparente, participativo. A apuração decorreu sem absolutamente nenhum deslize, os debates públicos tiveram a participação da comunidade muito grande. A Universidade nunca participou, de um processo eleitoral num nível tão alto. As estatísticas indicam que os professores usualmente participavam de suas eleições e nós tínhamos eleições para ADURGS, nós temos eleições para nossos representantes nos Conselhos e a participação dos professores era usualmente na faixa dos 50, 60%.
Várias eleições dos professores
tiveram que ser refeitas porque não completávamos o “quorum”. Na eleição direta
para reitor os professores participaram em 80%. Nas eleições normais dos
estudantes a participação tem sido na casa dos 20/25%, a melhor eleição com a
maior participação dos estudantes tinha sido uma para o DCE em que tinham
participado 33% dos estudantes. Nessa participaram 44% e os funcionários que
pela primeira vez participavam de um processo eleitoral maior, dentro da
Universidade, participaram na casa dos 90%. Isso significa que nunca a
Universidade antes havia se movimentado tanto ao redor de uma causa única, que
era eleger o seu Reitor. E elegendo o Colégio Eleitoral, cumprindo e honrando a
sua palavra, encaminhou essa lista ao Presidente da República. Ato seguinte: tivemos
que nos colocar a campo porque sabíamos o País que nós estávamos, sabíamos o
Governo que tínhamos, sabíamos que a Lei permitia que nos pregassem uma peça.
Tratamos de garantir o maior apoio possível, fora da Universidade, ao nome do
mais votado por uma única razão: não precisávamos mais apoio dentro da
Universidade porque estava expresso no resultado da eleição. Se analisarmos o
resultado de uma forma direta mais de 50% dos eleitores votaram no primeiro da
lista. Esse nosso intento de conseguir o apoio da sociedade civil organizada
rendeu frutos e encaminhamos ao presidente da República uma lista com mais de
100 entidades, sociedades civis, conselhos regionais, sindicato e partidos
políticos. Se somarmos as adesões ao nosso processo eleitoral e ao respeito que
exigíamos por parte do Presidente da República na escolha do primeiro da lista,
aos nomes dos nossos políticos da Bancada Federal esta lista de adesão passa de
150 nomes, passa de 150 entidades. Mas isso tudo não adiantou, mas,
infelizmente, o Presidente da República num direito legal, indicou o terceiro
da lista. Colega nosso, que tinha menos de 25% dos votos e que tinha chamado
atenção no processo da disputa eleitoral, porque havia negado-se a assinar um
documento em que ele diria nesse documento que, se ele fosse nomeado, não
aceitaria, a não ser que fosse o primeiro da lista. Ele chamou a atenção,
porque fez um discurso em função dessa solicitação, dizendo que um professor
não precisa assinar documento. Se a palavra de um professor universitário não
vale, o que vale? Infelizmente, esse colega nosso não aceitou o nosso convite.
O dia que transpirou, em Porto Alegre, que o novo Reitor estava nomeado, que o
Presidente havia escolhido o terceiro da lista, procuramos o Professor Gerardht
e nos coloca, à sua disposição, junto com as diretorias da ADUFRGS e DCE para
acompanhá-lo a Brasília, para que ele, na nossa companhia, com o nosso conforto
pudesse dizer ao Presidente da República que ele havia acabado de criar um
problema muito sério para Universidade ao escolher o terceiro colocado para a
eleição. Isso não existe, quando se elege alguém para um lugar, é o vencedor
que deve assumir esse lugar. Como ele não aceitou esse convite, ele esta
assumindo a Reitoria. A ADUFRGS, de novo está em luta. Esperamos que mais uma
vez consigamos a vitória. Não sei bem, nesse caso, o que significa a vitória.
Concordo com o que diz o Ver. Flávio Coulon, meu colega: a universidade é muito
maior que um reitor. De modo nenhum aceitaríamos a tarefa de inviabilizar a
universidade. Essa não é a nossa função. Um reitor é muito pouco para que nós
trabalhemos contra a nossa universidade. Agora, de forma nenhuma vamos deixar
passar esse ato que nos desmoralizou. Tenho conversado com professores que
foram meus professores e eles têm se sentido constrangidos. Não sabem como
enfrentar os estudantes, porque, na verdade, um dos nossos nos desmoralizou.
Realmente, se a palavra de um professor não vale, o que vale? Nós vamos deixar
isso claro, nós estamos a partir de amanhã, e mais a quinta-feira, paralisados
numa demonstração da nossa repulsa, numa demonstração de que nós não aceitamos
nem o fato de que o Presidente da República desconsiderou o nosso processo eleitoral, nem o fato
de que um colega nosso aceitou ser instrumento dessa desconsideração. Se isto
vai significar alguma coisa, não sei. Mas, confesso que não estou preocupado e
acho que ao contrário das outras lutas, em que para nós a participação era
importante, que o número dos professores mobilizados era, importante e com isso
nós conseguimos muitas vitórias, nessa não é importante. Nessa é importante nós
sabermos quem são os professores que realmente estão constrangidos, quem são os
professores que de alguma forma precisam deixar claro aos seus alunos, aos seus
colegas, aos funcionários da Universidade de que este ato os constrangeu, que
este ato os repugnou. E eles vão demonstrar isto paralisando. Os colegas que
não estão assim vão dar aula. E acho que devem dar aula, porque a nossa
paralisação é um ato de protesto, um ato de repulsa a uma atitude de um colega,
e mais do que isto a atitude do Presidente da República. Mas vejam que
infelizmente estamos em luta de novo. Mas, mesmo em luta, o momento é festivo.
E gostaria de encerrar estas
palavras dizendo que o grupo que fundou a ADUFRGS, o grupo que a trouxe até
hoje lutando tem crescido, e que se no início não eram mais do que uma centena,
hoje nós somos mais do que dois milhares. Hoje nós somos quase 70 ou 75% dos
professores da Universidade. Isto é importante. Este é o dado que mostra que
com muito esforço, muita luta, muita desconsideração nós tínhamos razão desde o
primeiro momento, e fomos sendo compreendidos, ao longo do tempo os nossos
colegas foram entendendo a que nós vínhamos, a que se propunha a ADUFRGS, e
hoje ela é uma Associação que congrega mais da metade dos professores da
Universidade.
Se nós analisarmos os dados
históricos, ela, no seu início, não congregava 10% dos professores da
Universidade. E isto mostra que esta luta foi importante, que esta luta trouxe
frutos para a organização, para os professores, para a nossa Universidade. E a
expectativa que nós temos, nos próximos 10 anos, é que nós consigamos crescer
mais. Claro que esperamos que não tenhamos que lutar tanto, nós não viemos para
lutar, nós somos obrigados a lutar desde o primeiro momento da nossa história,
mas na verdade, uma Associação de docentes não é feita para lutar. Uma
Associação de docentes, na verdade, é feita para discutir, para congregar, para
levar suas propostas adiante. Infelizmente, a única forma que nós temos
conseguido levar as nossas propostas adiante é com muita luta. A expectativa é
de que nós não precisemos manter o nosso nível de luta no nosso próximo
decênio, mas, se for preciso, tenho certeza, o nosso grupo é cada vez mais
forte, é cada vez mais unido e é cada vez mais consciente das nossas
necessidades, de que a nossa força conquista as vitórias. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ao
encerrar esta Sessão Solene, em nome do Presidente Ver. Brochado da Rocha, eu
tenho a dizer que, ao vir do interior, eu sempre digo que todos vêm em busca de
um sonho, eu tive a honra de conseguir ingressar num colégio que era o colégio
padrão do Estado, e que oficialmente ainda é, o Colégio Júlio de Castilhos. O
ensino gratuito, para mim, sempre foi uma das características fundamentais dos
direitos que as pessoas têm.
Depois, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e no Curso de Administração tive oportunidade de ser orientado pelos professores da Universidade Federal e espero, com o tempo, que eu consiga completar, também, o meu curso de Jornalismo na Universidade Federal. Eu compreendo e entendo essa crise que envolve, hoje, a Universidade Federal.
Eu penso comigo, reflito, que
estranhos desígnios levaram a Universidade a esta situação? Eu queria que o
Prof. Fachel e o Prof. Ferrari se considerassem como integrantes desta Mesa
aqui, que é chamada de mesa principal, tanto por suas qualidades pessoas, como
pelo que eles representam nesta solenidade. Aos Vereadores Jussara Cony,
Antonio Hohlfeldt e Flávio Coulon, eu prego a representação desta Casa, muito
problematizada, também, nesta época, com a situação de Porto Alegre, situação
até pré-eleitoral e queria agradecer, de todo o coração, a presença do Prof.
Sérgio Nicolaiewsky, Presidente da Associação de Docentes, do Prof. Joaquim
José Felizardo, professor tanto do Julinho como da Universidade Federal, e do
Prof. Sebastião Pereira, que representa, neste ato, o Prof. Tides José Martins.
Eu queria, ao encerrar, dizer
que esta Câmara está solidária com a luta dos senhores, está solidária com os
dez anos de luta que se comemoram no dia de hoje e estará sempre junto da
Universidade Federal ou de qualquer Universidade, para que fatos como este, em
toda a sua complexidade, em todos os seus mais profundos desígnios, não se
repitam mais, sejam quais forem as suas causas, numa Universidade que é do povo
e é de todos nós.
Estão encerrados os trabalhos
da presente Sessão.
(Levanta-se a Sessão às 20h06min.)
* * * * *